Milena deixa Adelaide e Eduardo para trás e se dirige à sala, onde seu pai olha para o teto sentado no espaçoso sofá. Ela se acomoda ao seu lado.
Amauri passou o dia inteiro evitando conflitos, seja com o pai, que parecia se esforçar mais para ter uma boa relação com o filho, com Adelaide, que sempre o tratou diferente, como se ele não merecesse seus trabalhos por “não ser da família de verdade”, ou mesmo com Eduardo, seu irmão mais velho, que desde sempre fez questão de ressaltar que ele sim era filho legítimo da família.
— Não pense que essa sua visitinha vai convencer alguém aqui de que você é parte da família, Amauri. — A voz de Eduardo tira Amauri do seu transe, fazendo-o notar que Milena está do seu lado. — Eu vou lutar para que você não receba nem um tostão quando o papai morrer, pode anotar.
Marisa chega logo depois do marido, e fica postada ao seu lado.
Amauri se levanta:
— Vamos, Milena — ele chama a filha, que acompanha o pai.
— Faz o que você sempre faz, mesmo. Corre da sua família. Se é que você pode chamar de família, né? A única coisa que te sobrou foi essa garota mesmo, né?
Perto da saída da sala, Amauri sente o seu sangue esquentar.